Topo

Histórico

Categorias

Lado B

Não vou dizer que é um passeio, mas quero um terceiro parto normal

Maria Flor Calil

14/02/2018 08h00

Comecei meu sábado de Carnaval no Hospital e Maternidade São Luiz, para me submeter a uma versão cefálica externa (VCE), que é a manobra que pretende tirar o bebê da posição pélvica para a cefálica.

Como já contei aqui, Francisco estava sentado dentro da minha barriga. Além de tê-lo apelidado de bebê Buda e iniciado até a campanha #virafrancisco, fiz tudo o que estava ao meu alcance para que ele virasse de cabeça pra baixo: acupuntura, moxabustão, os exercícios chamados spinning babies… só faltava a VCE, que deve ser realizada após as 37 semanas de gestação, porque, em caso remoto de o bebê ter que nascer (descolamento de placenta, ruptura da bolsa, desaceleramento das batidas cardíacas do feto),  ele já está mais prontinho.

Todo o meu esforço é sim para poder fazer um parto normal e não uma cesárea. Já passei pela experiência do parto normal duas vezes e, não vou dizer que parir é um passeio, rápido e indolor. Pelo menos para mim não foi… Encarei 32 horas de trabalho de parto para ter Teresa, e 12 para ter Julieta. Ainda assim, adoro a sensação de ganhar o bebê, tomar um banho e me sentir pronta para outra. Nunca fiz uma cesárea e, portanto, não posso falar sobre como é, mas imagino que o pós-parto seja um pouco mais delicado, já que é uma cirurgia de médio porte, com direito a pontos e tudo.

Maternidade lotada

Voltando ao sábado… Eu tinha que me internar às 7h da matina pois o procedimento estava agendado para as 9h. Ele deve ser feito no centro cirúrgico, com equipe médica e anestesista a postos, aparelho de ultrassom para ver a posição exata do bebê e também cardiotoco para acompanhar os batimentos cardíacos do feto, antes e depois da manobra.

Eu e meu marido chegamos pontualmente e ficamos esperando até as 11h30. Sabem o porquê da demora? A maternidade estava absolutamente lotada de mulheres fazendo cesáreas agendadas. Uma das explicações para o fenômeno: realizando a cirurgia no início do carnaval, os pais poderiam emendar o feriado com a licença paternidade.

Enquanto eu preenchia a papelada para me internar, observei duas ou três gestantes chegando para suas cesáreas, sem nenhum sinal de estarem em trabalho de parto. Elas iriam se submeter a cesáreas eletivas. É aqui que o bicho pega para mim. Não sou, de forma alguma, contra a cesárea. Essa cirurgia, quando bem aplicada, salva vidas e é um avanço da medicina. Mas também é sabido (menos do que se deveria) que são poucas as indicações reais para um parto cesáreo. A lista a seguir foi elaborada por Amorim & Duarte e atualizada em 2017:

1) Prolapso de cordão – com dilatação não completa;
2) Descolamento prematuro da placenta com feto vivo – fora do período expulsivo;
3) Placenta prévia parcial ou total;
4) Apresentação córmica (situação transversa) – durante o trabalho de parto (antes pode ser tentada a versão);
5) Ruptura de vasa praevia;
6) Herpes genital com lesão ATIVA no momento em que se inicia o trabalho de parto.

Portanto, cordão umbilical enrolado no pescoço, bolsa rota, bacia materna estreita, bebê muito grande, bebê muito pequeno etc. não são indicações para a cirurgia! Leia a lista completa de desculpas utilizadas para indicar uma "DESNEcesárea" aqui.

Que fique beeem claro também que não julgo quem opta por fazer uma cesárea porque tem medo ou não se sente segura para o parto normal, por exemplo. Mas acho que, no mínimo, a mulher tem que estar bem informada e consciente de sua escolha e dos riscos que ela envolve. E também acredito que, salvo complicações reais, todo bebê merece ter seu tempo respeitado. Entrar em trabalho de parto significa ouvir a hora em que o bebê está nos dizendo: "estou pronto para nascer".

Para continuar na minha experiência pessoal, gostaria de contar que conseguimos virar Francisco com a VCE! Agora é torcer para que ele continue cefálico, encaixe direitinho e possamos partir para o parto normal que tanto quero, e que é o que acredito ser o melhor para mim e meu bebê.

Continua…

Como já falei muito, esse post se desdobra em dois: no próximo texto, um pensamento sobre o que leva o Brasil a ostentar o triste título de campeão mundial de cesáreas.

Sobre a autora

A jornalista Maria Flor Calil, mãe da Teresa e da Julieta, e esperando Francisco, já trabalhou na TV Cultura, na Fundação Roberto Marinho e até foi dona de loja infantil. Depois da maternidade, foi abduzida pelo mundo da maternagem e editou o site da Pais & Filhos, a revista Claudia Filhos e lançou o livro “Quem Manda Aqui Sou Eu – Verdades Inconfessáveis Sobre a Maternidade”. Atualmente, é diretora de conteúdo do Aveq (www.averdadeeque.com.br) e editora de comunicações do Colégio Santa Cruz.

Sobre o blog

Começar de Novo, a música-tema do seriado Malu Mulher (exibido em 1979 e atualíssimo para as questões femininas), é inspiração para a jornalista grávida de um temporão. Um espaço para falar do lado B da maternidade, com uma dose de leveza e outra de profundidade.

Lado B