Lado B http://ladob.blogosfera.uol.com.br Um espaço para falar do lado B da maternidade, com uma dose de leveza e outra de profundidade. Wed, 28 Feb 2018 08:00:50 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 “Tenha uma boa hora!” – ou, a arte da espera http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/02/28/tenha-uma-boa-hora-ou-a-arte-da-espera/ http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/02/28/tenha-uma-boa-hora-ou-a-arte-da-espera/#respond Wed, 28 Feb 2018 08:00:50 +0000 http://ladob.blogosfera.uol.com.br/?p=180

Foto: iStock

Amo ouvir “Tenha uma boa hora”. Acho tão gentil e delicado da parte das pessoas dizer isso às grávidas, me emociona sinceramente. As palavras são proferidas pelas senhorinhas, por amigos e até desconhecidos na rua, que se espantam com o tamanho da minha barriga.

Curiosa que sou, procurei a origem da expressão, mas não encontrei. Acho que ela se origina mesmo do desejo sincero de que o momento do parto seja feliz, saudável e tranquilo para mãe e filho.

Que essa “hora seja boa” é fundamental, não importa quantos filhos já tenhamos tido, porque ela é, inevitavelmente, carregada de expectativas: sentirei muita dor? Será um trabalho de parto muito longo? Meu bebê vai nascer bem? Como será o rostinho dele, afinal?

Às gestantes que esperam pelo momento do nascimento, aquele misterioso momento em que as contrações ganharão algum ritmo, essa tal “boa hora” parece nunca chegar. Já anseio por ela, inclusive sabendo que ela dói! Quero carregar Francisco no colo e não mais na barriga. Como já contei nesse post sincerão, esse finzinho de gravidez é osso!

Escrevo o texto com 39 semanas e 5 dias e de quinta para sexta tem mudança de lua. Tá, eu sei que não tem nenhuma explicação científica para o fato, mas muitos dizem que a mudança de lua, principalmente para a fase cheia, faz aumentar o número de partos. Ué, se o satélite influencia até as marés, porque não? Deixa eu ter esperança, vai!

Um até breve!

Para quem me acompanhou até aqui, gostaria de dizer que foi muito estimulante dividir pensamentos e ideias com vocês durante essa gestação. A gravidez dura 9 (mentira, 10) meses, tem projetos que duram mais e outros menos. Muito precocemente, para o meu gosto, estão encerrando esse meu espaço no UOL.

Deixo de escrever aqui, mas jamais de comentar sobre maternagem, filhos, família. São assuntos que me mobilizam e preciso falar sobre eles. Quem quiser continuar me “acompanhando” pode ler meus textos no AVEQ, nas minhas redes sociais e também comprar o livro que escrevi em parceria com a Roberta D’Albuquerque: “Quem Manda Aqui Sou Eu – Verdades Inconfessáveis Sobre a Maternidade (Ed. HarperCollins).

Que tenhamos muitas boas horas juntos!

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O que faz do Brasil o vice-campeão mundial de cesáreas http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/02/21/o-que-faz-do-brasil-o-vice-campeao-mundial-de-cesareas/ http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/02/21/o-que-faz-do-brasil-o-vice-campeao-mundial-de-cesareas/#respond Wed, 21 Feb 2018 12:20:54 +0000 http://ladob.blogosfera.uol.com.br/?p=175

No Brasil, a cada dez partos, 8,5 são cesáreas (Getty Images)

Depois de publicar, na semana passada, a primeira parte deste post (Não vou dizer que é um passeio, mas quero um terceiro parto normal), e compartilhar em minhas redes sociais, nos comentários, muitas mulheres dividiram suas experiências. Mais uma vez, constatei que esse é um assunto que rende: precisamos falar sobre o parto, sobre a hora de nascer.

Veja alguns depoimentos:

“Quando perguntei ao meu obstetra em qual maternidade ele atendia, ele me disse que não fazia partos pelo plano de saúde e só depois entendi o porquê. Na época, o plano pagava menos do que um veterinário cobra pra fazer uma castração…”

“Esse sistema que é praticado aqui no Brasil mina a confiança entre médicos e pacientes. Basta transferir o assunto: seria plausível que eu, leiga em medicina, resolvesse que quero operar minha amígdala? Não deveria ser uma indicação médica? Assim como na gestação o certo seria ter o parto normal como regra e a cesariana apenas por indicação médica, sem interesses financeiros por trás.”

“Eu passei por uma cesária desnecessária e violenta pelo SUS e só vou ter outro filho quando puder pagar por uma equipe particular de confiança.”

“É importante falar da taxa que hoje é cobrada por muitos médicos de quem tem convênio e opta pelo parto normal. Há quatro anos, minha irmã teve de morrer em 7.000 reais. Então, acaba não sendo exatamente uma opção, né?”

“No meu terceiro parto, bem informada, finalmente pensei que ia conseguir o normal. Casa de parto? Não faz, porque eu já tinha duas cesáreas prévias. SUS? Já vai agendar a sua cesárea, é o protocolo do Ministério da Saúde. Parto vaginal, só pagando a equipe. Grana para pagar? Não tinha. Resultado: terceira cesárea.”

A força da grana que ergue e destrói coisas belas

Enquanto interagia com as leitoras, foi me batendo uma tristeza… Então será que tudo é uma questão de dinheiro?? Quem quer ter um parto normal, humanizado e respeitoso, tem de ter grana para bancar?

Eu mesma, quando me descobri grávida, fiz uma pesquisa no meu plano de saúde –que é bom, e não achei nenhum médico com taxas aceitáveis de partos normais (agora, eles são obrigados a divulgá-las). Resultado: fui buscar uma alternativa particular e o reembolso para consultas e para o parto é ridículo.

Conversando com minha atual obstetra, entendi melhor o lado de lá. Ela me disse que, enquanto atendeu por planos de saúde, tinha de receber quatro pacientes por hora. Sim, consultas de apenas 15 minutos. O pagamento pelo parto era tão irrisório que não dava nem para ter assistente. Por isso, quem faz partos pelo convênio opta pelas cesáreas: enquanto um parto normal pode durar horas, a cesariana é feita em 40 minutos. A prática dos médicos é reservar um dia da semana para as cirurgias agendadas e, assim, eles não têm de desmarcar consultas. Sistema bem perverso esse, não?

A cada 10 partos realizados em maternidades particulares no Brasil, 8,5 são cesáreas

O que puxa a média do país um pouco para baixo e nos coloca em segundo lugar, e não como campeões de cesáreas no mundo (posto ocupado pela República Dominicana), são os índices da rede pública. Ah, mas então é tranquilo dar à luz em um hospital público? Não é, não. Ouvi relatos assustadores de mulheres que não puderam ter seus companheiros por perto, que não receberam analgesia quando pediram, que foram submetidas até a episiotomia (corte do períneo) sem anestesia, entre outras barbaridades que configuram violência obstétrica.

Nesse cenário, quem é que quer ter um parto normal? Aqui entra a questão cultural da explosão de cesarianas mundo afora: a mulherada tem medo de parir e não enxerga mais o parto como um acontecimento fisiológico, para o qual, a princípio, somos aptas.

Como deu para perceber, esse é um problema multifatorial, e não adianta fazer uma caça aos culpados. E, como o número de cesarianas aumentou em todo o mundo, a OMS entrou em campo e baixou várias medidas para frear a epidemia. Saiba mais nesse texto, publicado semana passada, aqui no UOL.

Resumo da ópera?? Informação de qualidade nunca é demais e se cercar de profissionais sérios e de confiança é fundamental. Isso garante que você não vai acabar sendo submetida a uma cirurgia desnecessária. Quanto à questão do dinheiro para ter um parto normal, infelizmente, não sei o que dizer. Espero, de coração, que esse triste cenário mude o mais rápido possível. Serei sempre uma militante da causa.

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Não vou dizer que é um passeio, mas quero um terceiro parto normal http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/02/14/cesarea-ou-parto-normal-faca-uma-escolha-consciente/ http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/02/14/cesarea-ou-parto-normal-faca-uma-escolha-consciente/#respond Wed, 14 Feb 2018 10:00:02 +0000 http://ladob.blogosfera.uol.com.br/?p=162

Comecei meu sábado de Carnaval no Hospital e Maternidade São Luiz, para me submeter a uma versão cefálica externa (VCE), que é a manobra que pretende tirar o bebê da posição pélvica para a cefálica.

Como já contei aqui, Francisco estava sentado dentro da minha barriga. Além de tê-lo apelidado de bebê Buda e iniciado até a campanha #virafrancisco, fiz tudo o que estava ao meu alcance para que ele virasse de cabeça pra baixo: acupuntura, moxabustão, os exercícios chamados spinning babies… só faltava a VCE, que deve ser realizada após as 37 semanas de gestação, porque, em caso remoto de o bebê ter que nascer (descolamento de placenta, ruptura da bolsa, desaceleramento das batidas cardíacas do feto),  ele já está mais prontinho.

Todo o meu esforço é sim para poder fazer um parto normal e não uma cesárea. Já passei pela experiência do parto normal duas vezes e, não vou dizer que parir é um passeio, rápido e indolor. Pelo menos para mim não foi… Encarei 32 horas de trabalho de parto para ter Teresa, e 12 para ter Julieta. Ainda assim, adoro a sensação de ganhar o bebê, tomar um banho e me sentir pronta para outra. Nunca fiz uma cesárea e, portanto, não posso falar sobre como é, mas imagino que o pós-parto seja um pouco mais delicado, já que é uma cirurgia de médio porte, com direito a pontos e tudo.

Maternidade lotada

Voltando ao sábado… Eu tinha que me internar às 7h da matina pois o procedimento estava agendado para as 9h. Ele deve ser feito no centro cirúrgico, com equipe médica e anestesista a postos, aparelho de ultrassom para ver a posição exata do bebê e também cardiotoco para acompanhar os batimentos cardíacos do feto, antes e depois da manobra.

Eu e meu marido chegamos pontualmente e ficamos esperando até as 11h30. Sabem o porquê da demora? A maternidade estava absolutamente lotada de mulheres fazendo cesáreas agendadas. Uma das explicações para o fenômeno: realizando a cirurgia no início do carnaval, os pais poderiam emendar o feriado com a licença paternidade.

Enquanto eu preenchia a papelada para me internar, observei duas ou três gestantes chegando para suas cesáreas, sem nenhum sinal de estarem em trabalho de parto. Elas iriam se submeter a cesáreas eletivas. É aqui que o bicho pega para mim. Não sou, de forma alguma, contra a cesárea. Essa cirurgia, quando bem aplicada, salva vidas e é um avanço da medicina. Mas também é sabido (menos do que se deveria) que são poucas as indicações reais para um parto cesáreo. A lista a seguir foi elaborada por Amorim & Duarte e atualizada em 2017:

1) Prolapso de cordão – com dilatação não completa;
2) Descolamento prematuro da placenta com feto vivo – fora do período expulsivo;
3) Placenta prévia parcial ou total;
4) Apresentação córmica (situação transversa) – durante o trabalho de parto (antes pode ser tentada a versão);
5) Ruptura de vasa praevia;
6) Herpes genital com lesão ATIVA no momento em que se inicia o trabalho de parto.

Portanto, cordão umbilical enrolado no pescoço, bolsa rota, bacia materna estreita, bebê muito grande, bebê muito pequeno etc. não são indicações para a cirurgia! Leia a lista completa de desculpas utilizadas para indicar uma “DESNEcesárea” aqui.

Que fique beeem claro também que não julgo quem opta por fazer uma cesárea porque tem medo ou não se sente segura para o parto normal, por exemplo. Mas acho que, no mínimo, a mulher tem que estar bem informada e consciente de sua escolha e dos riscos que ela envolve. E também acredito que, salvo complicações reais, todo bebê merece ter seu tempo respeitado. Entrar em trabalho de parto significa ouvir a hora em que o bebê está nos dizendo: “estou pronto para nascer”.

Para continuar na minha experiência pessoal, gostaria de contar que conseguimos virar Francisco com a VCE! Agora é torcer para que ele continue cefálico, encaixe direitinho e possamos partir para o parto normal que tanto quero, e que é o que acredito ser o melhor para mim e meu bebê.

Continua…

Como já falei muito, esse post se desdobra em dois: no próximo texto, um pensamento sobre o que leva o Brasil a ostentar o triste título de campeão mundial de cesáreas.

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Mamãe, quero ser youtuber! Que raio de profissão é essa? http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/02/07/mamae-quero-ser-youtuber/ http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/02/07/mamae-quero-ser-youtuber/#respond Wed, 07 Feb 2018 06:00:42 +0000 http://ladob.blogosfera.uol.com.br/?p=144

Lá em casa, minhas filhas têm canais imaginários; enquanto fica no faz de conta, acho até engraçado (Getty Images)

Gente, que raio de profissão é essa?? Sei que estou no final da gravidez e mais rabugenta do que nunca, mas, realmente, não consigo entender como alguém pode querer ser youtuber a princípio. Digo a princípio por que se há algum tempo as crianças queriam ser professores, médicos, bombeiros, jornalistas, arquitetos ou jogadores de futebol, agora querem ser youtubers.

Mas para ensinar o quê? Falar sobre o quê? Geralmente, os youtubers mirins, como são chamados, gravam vídeos propondo desafios para os amigos, dando dicas de brincadeiras e de games, fazendo relatos de viagens e até tutoriais de maquiagem. Outros fazem resenhas de lançamentos de brinquedo e material escolar, prática conhecida como unboxing. Daí a coisa complica, né? Não seria essa uma forma de as marcas fazerem propaganda para o público infantil?

Bom, se a idade mínima exigida para criar um perfil no Google é de 13 anos, imagina-se que os canais dessa criançada sejam gerenciados por seus pais ou responsáveis. Tanto o Ministério Público Federal quanto órgãos como o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) estão bem atentos: todos os elementos que regulam a publicidade dirigida às crianças na TV, valem também para a internet. Não é terra sem lei, não!

Casa de ferreiro, espeto de pau

Lá em casa mesmo, minhas filhas têm canais imaginários. Direto as pego “gravando” vídeos de frente para o espelho, geralmente ensinando o passo-a-passo de alguma coisa, com direito a imitar todos os trejeitos e bordões dos youtubers que mais assistem. Também planejam canais sobre os mais variados temas com as amigas, escolhem nomes, decidem quem vai aparecer no vídeo, quem vai editar etc. Enquanto fica no faz de conta, acho até engraçado.

O que não tem graça para mim é o tempo que elas perdem hipnotizadas na frente do computador ou do celular, vendo um monte de gente histérica gritando, falando nada com nada, sem qualquer conteúdo. Sei que, como mãe, a responsabilidade de regular o uso dos gadgets é minha e não me furto. Mas não quero ser só a chata, a que proíbe e diz não a torto e a direito. Até por que, como a nossa geração não é de nascidos digitais, temos, sim, dificuldade em ensinar coisas que não aprendemos e também em entender o que faz a cabeça da garotada. Infelizmente, esse sempre será um gap entre nós e nossos filhos.

Acompanhando o fenômeno

Atualmente, todo o meu esforço é para chegar em um meio termo que agrade às partes. Sempre que possível, procuro assistir junto, interesso-me pelo que está mobilizando a atenção das meninas e as convido a ter um posicionamento crítico: isso que estamos vendo agora acrescenta alguma coisa na vida? Ensina? Faz pensar?? Está roubando o tempo da leitura, da brincadeira ao ar livre?

Com essa postura mais aberta, também aprendo. Descobri que vários canais mostram tutoriais muito legais, é a febre do DIY (Do It Yourself). Fico abismada com algumas produções de Teresa e Julieta. De artesanato a culinária, elas já fizeram slime, capas de caderno, cookiescupckes, bonecas de tecido e tiaras de unicórnio. Acho incrível a habilidade que os pequenos têm de assistir a um vídeo e reproduzir perfeitamente as receitas. Além de ser muito bacana essa postura maker: pra que comprar, se posso fazer?

E por último, mas não menos importante, quero deixar registrado que tenho consciência de que nossa geração também tinha seus youtubers, eram os boy bands! E também nos entorpecíamos, mas na frente da TV. Ou vai dizer que assistir ao programa do Bozo, da Xuxa ou certos desenhos, acrescentava alguma coisa de útil às nossas vidas? Mas é preciso estar atento e forte, por que, se deixar, nossos filhos passarão o resto da existência sentados, de olho em telinhas.

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Socorro, vou ficar grávida para sempre! (O mês que dura uma eternidade) http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/01/30/socorro-vou-ficar-gravida-para-sempre-o-mes-que-dura-uma-eternidade/ http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/01/30/socorro-vou-ficar-gravida-para-sempre-o-mes-que-dura-uma-eternidade/#respond Tue, 30 Jan 2018 06:00:02 +0000 http://ladob.blogosfera.uol.com.br/?p=121

Gravidez sem fim? (Foto: Getty Images)

É fato: todo bebê uma hora nasce, de um jeito ou de outro, mas nasce. E também é fato que o nono mês não acaba nunca, quem já o enfrentou sabe disso… Olham nossa barrigona, perguntam de quanto tempo estamos e, quando respondemos “9º mês”, é batata: “Nossa, tá perto, já, já nasce”. Não senhoras e senhores, esse “já, já” é só para quem não está carregando o equivalente a um melão na barriga (é com isso que o aplicativo compara o tamanho do bebê na semana em que estou. Calma que piora, daqui a pouco ele terá o peso de uma jaca!).

Mesmo em uma gravidez tranquila e sem muitos percalços como a minha, o finalzinho é de matar. Se ele cair no verão então, vixe maria! Temos que lidar com pés inchados que já não cabem em qualquer calçado e parece que estamos constantemente enroladas em um edredom de tanto calor que passamos. Imagino que deva ser mais ou menos assim que as mulheres se sintam com os fogachos na menopausa. (Amigas, toda a minha solidariedade!)

Uma barriga descomunal

O tamanho da barriga fica meio indecente, sério. Um monte de roupa não cabe mais e você fica mortalmente enjoada das três que ainda entram. Fora que ações prosaicas como passar hidratante, amarrar o tênis ou cortar as unhas do pé se transformam em um verdadeiro exercício de contorcionismo. Tenho passado pelo mico de pedir para que minhas filhas amarrem meu tênis, antes da caminhada matinal.

Falando nisso, a caminhada, que era um momento super agradável para mim, virou um suplício: a barriga fica dura o tempo todo – são as tais contrações de treinamento -, e sinto um desconforto monstro no osso púbico. E ainda por cima, sei que estou andando como uma pata, ou talvez como um pinguim. Que cena!

Dormir também é uma epopeia. Além de levantar 500 vezes para fazer xixi por conta da bexiga que está pressionada, achar uma posição confortável é praticamente impossível. E, cada vez que troco de lado, tenho que levar junto os travesseiros que estou usando, um sob a cabeça, outro entre as pernas e ainda um terceiro apoiando a barriga. Ah, e detalhe: Francisco só me deixa dormir deitada do lado esquerdo. Se eu me viro para o direito, ele se transforma em um alien e se mexe e me chuta até que eu desvire.

TPM elevada ao quadrado

E o meu humor?? Também não anda dos melhores e me sinto em constante TPM. Nessa fase, é normal ficar mais ansiosa e me preocupo com a hora do parto e a dor das contrações; a lista de coisas a resolver antes de o bebê chegar; a curiosidade de saber quem, afinal, anda habitando minha barriga todo esse tempo; o pânico de passar meses sem dormir direito, do bico do peito rachar, do leite empedrar, de sei lá mais o quê.

Tô mandando um sincerão para aqueles que pensam que toda gestante vive em estado de graça, mas não quero assustar ninguém com esse post que está super Lado B mesmo. Muitos desses perrengues nós esquecemos, se assim não fosse ninguém teria mais de um filho e a humanidade estaria em vias de extinção. E claro, passado tudo isso, recebemos aquele presente vitalício, nosso neném delícia, que vamos amar mais do que tudo. <3

No fim, acho que o texto é só para desabafar mesmo e pedir que todos sejam compreensivos e pacientes com as mulheres nessa fase. É um período puxado, intenso e que tem zero glamour.

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Por que vou escolher uma mulher para levar minhas filhas à escola http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/01/23/procura-se-uma-ladydriver/ http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/01/23/procura-se-uma-ladydriver/#respond Tue, 23 Jan 2018 10:00:43 +0000 http://ladob.blogosfera.uol.com.br/?p=110

Recentemente, coloquei o seguinte post em minha página no Facebook:

*Classiface*: Com as meninas estudando no novo colégio, uma em cada horário, mais as atividades complementares das duas, mais bebê recém-nascido, pela primeira vez na história da nossa familinha, não vou dar conta de levar e buscar todo mundo. Pensei em ter uma motorista (de preferência mulher) pra fazer o transporte das crianças. Vocês indicam alguém??

Os comentários logo começaram a aparecer, inclusive de gente questionando por que coloquei “de preferência mulher”, como se isso fosse um preconceito às avessas. Bom, não era. Como mãe de duas meninas e sempre ligada na enxurrada diária de relatos de abusos e assédios cometidos nos mais diversos meios, dos grandes estúdios de cinema ao transporte público nosso de cada dia, senti que devia, sim, escolher uma mulher para transportar minhas filhas para a escola.

Contra números, não há argumentos

Dê um simples google e comprove você mesmo. Diversas pesquisas mostram que as mulheres dirigem melhor do que os homens: eles cometem muito mais infrações no trânsito do que nós; são mais desatentos e mais de 70% dos acidentes são causados por um condutor do sexo masculino. Lembra do ditado “mulher no volante, perigo constante”? Bom, podemos afirmar que ele não faz o menor sentido…

Mas não foi pensando apenas nesse tipo de segurança que meu coração pedia que as meninas fossem transportadas por uma mulher (lembrando: não será um transporte escolar, desses com um monte de crianças) e os inbox que começaram a chegar comprovaram que eu tinha razão… Fiquei sabendo de relatos de motoristas abusadores, algo muito mais comum do que se pensa. Não é só mulher adulta que sofre nos táxis e ubers da vida, não!

Enquanto lia as mensagens, também lembrei de como eu mesma sofri, indo desde os 10 anos de idade para a escola de ônibus, com cantadas, passadas de mão, encoxadas e demais agressões.

Luz nas trevas

Por sorte, junto com histórias tristes que não desejamos a ninguém, começaram a pipocar muitas indicações de ladydrivers e serviços especializados, como um com a maravilhosa sigla TPM (Transporte Para Mulheres). Nessas horas, agradeço demais as redes sociais e a possibilidade de reunir, em pouco tempo, tantas sugestões. Depois disso, meu trabalho foi ver o que cabia no nosso bolso, fazer algumas ligações e marcar conversas ao vivo.

Acho bem deprê que, com os anos que separam a minha infância/adolescência da das minhas filhas, continuemos a ter esse tipo de preocupação. O que mudou é que hoje falamos mais do assunto, denunciamos, nem sempre nos calamos. E também contamos com alternativas. Nesse caso específico, mais e mais mulheres fazem o uso do carro para conseguir o ganha-pão e isso torna possível que minhas filhas sejam transportadas com mais segurança, em todos os sentidos.

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Um roteiro para organizar um chá de bebê cheio de significados http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/01/16/um-cha-de-bebe-cheio-de-significados-e-um-roteiro-que-ajuda-a-planejar/ http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/01/16/um-cha-de-bebe-cheio-de-significados-e-um-roteiro-que-ajuda-a-planejar/#respond Tue, 16 Jan 2018 10:00:19 +0000 http://ladob.blogosfera.uol.com.br/?p=100

Confesso que eu estava com uma certa preguiça de realizar o chá de bebê do Francisco… Mas logo bateu uma culpa de mãe (sentimento familiar aí, amigas??) já que fiz tanto para Teresa (dois, um no Rio e outro em São Paulo!) quanto para Julieta. Poxa, o caçula já ia nascer sem chá? Depois ia ter menos fotos, menos brinquedos e livros, só usar roupas herdadas. Não é disso que reclamam os segundos, terceiros e quartos filhos?

Primeiro, foi difícil escolher uma data: novembro era muito cedo, dezembro é aquele mês insano com 3253 confraternizações e em janeiro muitas pessoas estão de férias. Fevereiro, bem, fevereiro não era uma possibilidade por motivos de poder dar à luz.

Depois de rachar a cuca, escolhi um final de semana de janeiro e já fui checar a previsão do tempo. Como moramos em casa e gosto de aproveitar o jardim, não queria chuva. A previsão para o sábado estava melhor, mas o marido estava de plantão… batemos o martelo no domingo e, imediatamente, comecei a rezar para Santa Clara e São Pedro.

Roteiro para festas em geral

Geralmente, depois que me decido, pelo fato de eu adorar receber e ter alma de produtora, rapidamente me animo e sigo um mesmo roteiro para todos os eventos:
• Escolho um horário e faço a lista de convidados para ter ideia do que e quanto vou servir de comida e bebida;
• Penso em um tema e em uma cartela de cores para a decoração e já crio uma pasta no Pinterest com algumas inspirações;
• Reservo os itens que vou alugar como taças, mesas e cadeiras;
• Entro em contato com os meus fiéis ajudantes, como garçom e faxineira (sempre recorro aos mesmos, que já conhecem minha casa e o jeito como recebo);
• Encomendo com a quituteira os doces e salgados;
• Compro as bebidas em sites que entregam em casa;
• Mobilizo os familiares e amigos próximos para ajudar no que for preciso;
• Faço o convite e crio um evento no Facebook para salvar a data com os queridos todos (depois reforço por WhatsApp e ligações).

Dicas para o chá de bebê

Mas um chá de bebê não é uma festa qualquer e tem algumas particularidades, né? Ao planejar o seu, você deve se fazer algumas perguntas: Qual o meu orçamento? Vou pedir só fraldas ou fazer lista em lojas especializadas? Será uma reunião só para as amigas ou convidarei todo mundo? Um evento para a família e outro no trabalho?? No meu caso, queria reunir a família e os amigos mais próximos para celebrar essa gestação não planejada, mas já tão desejada. Nessa correria em que vivemos, muita gente ainda nem tinha me visto grávida e o chá me pareceu a oportunidade perfeita.

Decidi fazer uma lista com itens que ainda não tinha e já sei que isso ajuda muita gente que quer presentear, mas não sabe do que estamos precisando. Quando for montar a sua, lembre-se de escolher produtos que caibam em todos os bolsos. Receber sabonete líquido e outros artigos de higiene é tão ou mais útil do que produtos caríssimos e menos usáveis…

Na loja, não selecionei nada de vestuário, mas se você quiser ganhar roupinhas, pense em que época do ano seu filho vai usar P, M, G… Assim você não recebe um monte de bodies de manga comprida que só vão servir no bebê quando o verão chegar… Áh, e especifique tamanho! Roupinhas RN são fofas e o povo adora dar, mas é o que o bebê menos veste.

No capítulo fraldas, pedi apenas nos tamanhos P e M já que vou tentar usar as ecológicas a partir dos 3 meses de Francisco, mas essa é uma aventura que conto em outro post.

Para quem quiser receber fraldas para todas as fases, é melhor organizar algum esquema para não ganhar muitas de um tamanho e nada de outro… Você pode dividir os convidados pela primeira letra do nome, por exemplo: de A a G tamanho P, de H a O tamanho M e de P a Z tamanho G. Não acho que vale a pena pedir a descartável extra-grande porque muitos bebês desfraldam antes de usá-la e pacote de fralda ocupa lugar pra caramba em casa. Já pensou guardar um arsenal que só vai ter utilidade em dois anos??

Na internet também é possível achar várias tabelinhas que calculam quantas fraldas o bebê usa, em média, de cada tamanho. Para as mães de primeira viagem, vale consultar.

Peça ajuda!

Como disse no começo do texto, eu gosto de produzir as comemorações aqui de casa, mas é muito comum que o chá de bebê seja organizado por uma amigona, a madrinha ou familiares. Mesmo tomando à frente, não deixei de envolver algumas pessoas: pedi para a minha sogra preparar suas deliciosas pastas árabes (homus, babaganuche e coalhada seca) e encomendei para a minha irmã mega talentosa (@cacarecos_craft) amigurumis e o topo do bolo e dos docinhos em aquarela, no tema do chá, que foi mar e peixes (provável signo do Francisco). Ela também chegou mais cedo e decorou lindamente a mesa. Eu mesma me encarreguei de fazer o bolo de limão com glacê e de fazer os arranjos que floriram a casa toda.

Essa organização prévia parece exagerada, mas permite que a gente chegue no dia do evento menos estressada e com disposição para aproveitar a festa. Ainda assim, imprevistos podem acontecer. Choveu um pouco, ventou um monte e meu marido teve que sair para comprar mais bebida e gelo no meio chá. Com tudo isso, ninguém queria ir embora! Apesar de já estar no oitavo mês de gestação (e mais pesadona), curti muito a farra e me emocionei com o carinho de todo mundo. Quer coisa mais gostosa e auspiciosa do que reunir um bando de queridos para celebrar a chegada de um filho? <3

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Sentado, como um Buda (dicas para um bebê pélvico virar) http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/01/09/sentado-como-um-buda-dicas-para-um-bebe-pelvico-virar/ http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/01/09/sentado-como-um-buda-dicas-para-um-bebe-pelvico-virar/#respond Tue, 09 Jan 2018 10:00:13 +0000 http://ladob.blogosfera.uol.com.br/?p=94

Já estou no terceiro trimestre e minha gestação segue tranquila e sem percalços, exceto por um detalhe: Francisco ainda está sentado na minha barriga e não de cabeça pra baixo, como já deveria estar a essa altura do campeonato, quando passei das 32 semanas.

Tá, mas e o que isso significa?? O melhor para um parto normal é quando o bebê está de cabeça para baixo, ou no linguajar dos médicos em “apresentação cefálica”. Cerca de 97% dos bebês ficam naturalmente nessa posição por que a cabeça é a parte mais pesada do corpo e “tomba”.

Conheço essa história…

Julieta, minha segunda filha, só virou com 34 semanas. Ela já era bem grandinha e foi uma experiência um tanto bizarra: era um domingo e comecei a sentir uma dor na barriga que não era contração, não era cólica, era mesmo como se um alien estivesse tentando me partir ao meio, empurrando todos os meus órgãos ao mesmo tempo…

Francisco também é um bebezão, não só seus ossos são grandes como ele tem uma circunferência abdominal bem avantajada e é por isso que eu o apelidei de bebê Buda (rsrs). Na minha imaginação, ele tenta virar, mas a pança não deixa. Tadinho!

Tadinho dele e de mim: nessa posição, a cabecinha do bebê está pressionando meu diafragma e por isso fico ofegante. De vez em quando, Francisco me dá uns chutes na região dos rins também.

Ele está sentando, mas eu não!

Como quero muito ter um parto normal (já tive dois e simplesmente amo a sensação de parir, tomar um banho e querer logo partir pra outra) estou fazendo minha parte. Com obstetras experientes dá para ter parto normal com bebê pélvico, principalmente se não é nosso primeiro e os outros já foram por via vaginal, mas… sabe aquele 0,000X% de não dar certo? Pois é, não me sinto segura para arriscar.

Mas há o que fazer sim, viu? Desde 30 semanas, por orientação da minha médica, faço os exercícios da Gail Tully, parteira americana que criou o método Spinning Babies, um conjunto de exercícios para estimular a flexibilidade da pelve da mulher e facilitar a rotação do bebê, durante a gravidez e também no trabalho de parto. Por conta da minha prática de yoga, também faço algumas posturas que podem ajudar o bebê a virar.

Ainda vou tentar acupuntura e moxabustão com uma obstetriz especializada em medicina chinesa. A ideia é acionar pontos que ajudem o bebê a mudar de posição. A última cartada é a “versão cefálica externa”, feita com 36 semanas de gravidez, no hospital. Nessa manobra não invasiva, o obstetra, com o auxílio do ultrassom, identifica exatamente a posição do bebê e, com as mãos na superfície da barriga da mãe, gentilmente o posiciona de cabeça para baixo.

Sem expectativas

No mais, também está rolando reza braba e muita conversa com Francisco. Durante nossas caminhadas, peço para ele virar e ficar na melhor posição para o parto normal. Já sei que cada gravidez é uma e que não adianta criar muita expectativa para o parto. O que está a nosso alcance é nos mantermos saudáveis, bem informadas e cercadas dos melhores profissionais. Dessa lista, tô ticando todos os itens!

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Filho, a única coisa que é pra sempre http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/01/02/filho-a-unica-coisa-que-e-pra-sempre/ http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2018/01/02/filho-a-unica-coisa-que-e-pra-sempre/#respond Tue, 02 Jan 2018 10:04:41 +0000 http://ladob.blogosfera.uol.com.br/?p=85

Último dia de 2017. Acabo o ano carregando no ventre meu terceiro filho. Ou seja, esse ano será um daqueles inesquecíveis, eternos.

Casamentos acabam. Mudamos de trabalho, de casa, de cidade. Encerramos ciclos de amizade. Ganhamos e perdemos peso. Cortamos, pintamos e até raspamos o cabelo. Viramos vegetarianos, veganos, voltamos a comer carne. Fazemos promessas e passamos um tempo sem beber, sem comprar roupas, sem comer chocolate. Tudo nessa vida é transitório, menos ter um filho.

“Quando Francisco nascer, nós vamos reformar nossa vida”

Minha filha Teresa repetiu essa frase muitas vezes desde que soube que ia ganhar um irmão. De fato, até fizemos uma reforma na casa para construir um terceiro quarto que abrigasse o bebê inesperado. Mas reformar a vida, como é isso? Do alto de seus 10 anos, Tetê enxerga longe. Nossa vida nunca mais será a mesma: a família passará a ter cinco integrantes; Julieta será a filha do meio e não mais a caçula; choro e cheiro de bebê preencherão a casa por um bom tempo; eu e Ricardo seremos pais de três. Três descendentes, três misturas totalmente diferentes de DNA, três oportunidades de vivenciarmos o amor incondicional.

Agora serei adulta?

Quando fiz 25 anos, um quarto de século, perguntei a meu pai quando é que me sentiria adulta. Eu já tinha minha casa, trabalho, carro, vida independente, mas não me sentia gente grande. Não esqueço a resposta dele: “Sabe filha, e se eu te disser que até hoje, aos 53 anos, muitas vezes não me sinto adulto? Mas se tivesse que te apontar um momento, diria que é o nascimento dos filhos.”

Não lembro de ter tido a sensação de finalmente ser adulta com o nascimento da primogênita, mas sim quando estava escolhendo a primeira escolinha que ela iria frequentar, ali, na frente da diretora, querendo saber da linha pedagógica, do lanche, das atividades, de como meu bebê ia sobreviver longe de mim. Uma responsabilidade dessa, bicho, só podia ser coisa de adulto.

Presente vitalício

Quando os amigos ganham filhos eu sempre os parabenizo pelo presente vitalício. Apesar dos perrengues e das dificuldades que vêm no pacote, eu nunca experimentei outra oportunidade tão preciosa para rever valores, rotas e hábitos. Já durante a gestação fazemos um esforço para melhorar a alimentação, promovemos aquela arrumação na casa, planejamos com cuidado o futuro próximo. Se vamos conseguir colocar todas as boas intenções em prática importa menos do que fazer um balanço de como anda nossa existência.

Grávida, e no último dia do ano, fazer balanço da vida é praticamente inevitável e é com força e garra que pretendo entrar no próximo ciclo. Afinal, tenho a responsabilidade, e a alegria, de ter recebido mais um presente vitalício.

Chove lá fora e dentro do meu peito faz um sol enorme. Vem 2018.

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O tempo passa – e chega o dia em que as crianças começam a sofrer http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2017/12/19/sobre-o-tempo/ http://ladob.blogosfera.uol.com.br/2017/12/19/sobre-o-tempo/#respond Tue, 19 Dec 2017 10:00:27 +0000 http://ladob.blogosfera.uol.com.br/?p=72

2017 vai chegando ao fim carregado de emoções e meu coração de mãe tem transbordado com frequência. Minhas duas filhotas vão sair da escola onde estudaram nos últimos 6 anos e estão mexidas.

A caçula trabalhou o ano todo em um projeto chamado “Livro da Família” e, para realizá-lo, colheu informações sobre a origem do seu nome e a dos sobrenomes, pesquisou seus antepassados e fatos marcantes da sua vida do nascimento até aqui. Durante o processo, reviramos o HD atrás de fotos e a memória atrás de fatos. A passagem do tempo estava ali tão nítida que foi impossível ignorá-la.

No dia do lançamento do livro, as crianças se apresentaram cantando três músicas: “Família”, dos Titãs; “Tempos Modernos”, do Lulu Santos e “Sobre o Tempo”, do Pato Fu. Nessa última, as vozes infantis acompanhadas pelo violão do professor me fizeram chorar de soluçar. Sim, talvez os hormônios da gravidez tenham contribuído, mas não fui a única a derramar lágrimas enquanto os pequenos entoavam versos como:

“Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio”
e
“Tempo amigo seja legal
Conto contigo pela madrugada
Só me derrube no final”

Várias crianças dessa turma estão juntas desde os três anos. Julieta fez grandes amigos e a despedida dessa parte importante da infância é dura para ela (e para mim também). Há uma semana ela dorme na casa das amigas, as amigas dormem aqui, encontros são combinados para as férias, estratégias são traçadas para que as amizades não se percam.

Aos seis anos, Teresa me disse: “Sabe mãe, em toda a minha vida eu nunca tive um dia triste. É que eu sou criança, ainda não resolvo problemas.”

Mas, para a minha filha mais velha, o fim do ano também não está suave… Ela encerra o Fundamental 1 e ingressa no Fundamental 2: além de trocar de escola, vai mudar de horário, deixar de ter um professor referência e passar a ter vários professores especialistas, sair de uma classe de vinte e poucas crianças e ingressar em outra com bem mais de trinta!

No último dia de aula, Tetê chorava abraçada às amigas. Apesar de elas terem um grupinho no whatsapp (intitulado BFFs, sigla para best friends forever) e poderem continuar a se comunicar por ali, afirmavam, desoladas, que não seria mais a mesma coisa. Me esforcei muito para não chorar junto, porque sim, elas têm razão, não será mais a mesma coisa, nada será como antes. No entanto, para atenuar o sofrimento das meninas, afirmei: vai ser diferente, mas não precisa ser pior.

Crescer não é sem dor

Lembrei de quantas vezes já mudei na vida: de escola, de namorado, de casa, de trabalho, de cidade. Por quantas mudanças e fins de ciclos passarão minhas filhas? Aos seis anos, Teresa nunca havia tido um dia triste, mas não sei se ela ainda pode afirmar isso. Crescer não é sem dor. Para mim, que sou mãe, acompanhar o processo é bonito e difícil ao mesmo tempo.

Quando os filhos são pequenos, basta dar um beijinho, um colo, deixar comer um sorvete fora de hora e parece que tudo se resolve. Não é mais assim e só me resta pedir: “tempo amigo seja legal.”

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