Topo

Histórico

Categorias

Lado B

O tempo passa - e chega o dia em que as crianças começam a sofrer

Maria Flor Calil

19/12/2017 08h00

2017 vai chegando ao fim carregado de emoções e meu coração de mãe tem transbordado com frequência. Minhas duas filhotas vão sair da escola onde estudaram nos últimos 6 anos e estão mexidas.

A caçula trabalhou o ano todo em um projeto chamado "Livro da Família" e, para realizá-lo, colheu informações sobre a origem do seu nome e a dos sobrenomes, pesquisou seus antepassados e fatos marcantes da sua vida do nascimento até aqui. Durante o processo, reviramos o HD atrás de fotos e a memória atrás de fatos. A passagem do tempo estava ali tão nítida que foi impossível ignorá-la.

No dia do lançamento do livro, as crianças se apresentaram cantando três músicas: "Família", dos Titãs; "Tempos Modernos", do Lulu Santos e "Sobre o Tempo", do Pato Fu. Nessa última, as vozes infantis acompanhadas pelo violão do professor me fizeram chorar de soluçar. Sim, talvez os hormônios da gravidez tenham contribuído, mas não fui a única a derramar lágrimas enquanto os pequenos entoavam versos como:

"Tempo, tempo mano velho, falta um tanto ainda eu sei
Pra você correr macio"
e
"Tempo amigo seja legal
Conto contigo pela madrugada
Só me derrube no final"

Várias crianças dessa turma estão juntas desde os três anos. Julieta fez grandes amigos e a despedida dessa parte importante da infância é dura para ela (e para mim também). Há uma semana ela dorme na casa das amigas, as amigas dormem aqui, encontros são combinados para as férias, estratégias são traçadas para que as amizades não se percam.

Aos seis anos, Teresa me disse: "Sabe mãe, em toda a minha vida eu nunca tive um dia triste. É que eu sou criança, ainda não resolvo problemas."

Mas, para a minha filha mais velha, o fim do ano também não está suave… Ela encerra o Fundamental 1 e ingressa no Fundamental 2: além de trocar de escola, vai mudar de horário, deixar de ter um professor referência e passar a ter vários professores especialistas, sair de uma classe de vinte e poucas crianças e ingressar em outra com bem mais de trinta!

No último dia de aula, Tetê chorava abraçada às amigas. Apesar de elas terem um grupinho no whatsapp (intitulado BFFs, sigla para best friends forever) e poderem continuar a se comunicar por ali, afirmavam, desoladas, que não seria mais a mesma coisa. Me esforcei muito para não chorar junto, porque sim, elas têm razão, não será mais a mesma coisa, nada será como antes. No entanto, para atenuar o sofrimento das meninas, afirmei: vai ser diferente, mas não precisa ser pior.

Crescer não é sem dor

Lembrei de quantas vezes já mudei na vida: de escola, de namorado, de casa, de trabalho, de cidade. Por quantas mudanças e fins de ciclos passarão minhas filhas? Aos seis anos, Teresa nunca havia tido um dia triste, mas não sei se ela ainda pode afirmar isso. Crescer não é sem dor. Para mim, que sou mãe, acompanhar o processo é bonito e difícil ao mesmo tempo.

Quando os filhos são pequenos, basta dar um beijinho, um colo, deixar comer um sorvete fora de hora e parece que tudo se resolve. Não é mais assim e só me resta pedir: "tempo amigo seja legal."

Sobre a autora

A jornalista Maria Flor Calil, mãe da Teresa e da Julieta, e esperando Francisco, já trabalhou na TV Cultura, na Fundação Roberto Marinho e até foi dona de loja infantil. Depois da maternidade, foi abduzida pelo mundo da maternagem e editou o site da Pais & Filhos, a revista Claudia Filhos e lançou o livro “Quem Manda Aqui Sou Eu – Verdades Inconfessáveis Sobre a Maternidade”. Atualmente, é diretora de conteúdo do Aveq (www.averdadeeque.com.br) e editora de comunicações do Colégio Santa Cruz.

Sobre o blog

Começar de Novo, a música-tema do seriado Malu Mulher (exibido em 1979 e atualíssimo para as questões femininas), é inspiração para a jornalista grávida de um temporão. Um espaço para falar do lado B da maternidade, com uma dose de leveza e outra de profundidade.

Lado B