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Por que vou escolher uma mulher para levar minhas filhas à escola

Maria Flor Calil

23/01/2018 08h00

Recentemente, coloquei o seguinte post em minha página no Facebook:

*Classiface*: Com as meninas estudando no novo colégio, uma em cada horário, mais as atividades complementares das duas, mais bebê recém-nascido, pela primeira vez na história da nossa familinha, não vou dar conta de levar e buscar todo mundo. Pensei em ter uma motorista (de preferência mulher) pra fazer o transporte das crianças. Vocês indicam alguém??

Os comentários logo começaram a aparecer, inclusive de gente questionando por que coloquei "de preferência mulher", como se isso fosse um preconceito às avessas. Bom, não era. Como mãe de duas meninas e sempre ligada na enxurrada diária de relatos de abusos e assédios cometidos nos mais diversos meios, dos grandes estúdios de cinema ao transporte público nosso de cada dia, senti que devia, sim, escolher uma mulher para transportar minhas filhas para a escola.

Contra números, não há argumentos

Dê um simples google e comprove você mesmo. Diversas pesquisas mostram que as mulheres dirigem melhor do que os homens: eles cometem muito mais infrações no trânsito do que nós; são mais desatentos e mais de 70% dos acidentes são causados por um condutor do sexo masculino. Lembra do ditado "mulher no volante, perigo constante"? Bom, podemos afirmar que ele não faz o menor sentido…

Mas não foi pensando apenas nesse tipo de segurança que meu coração pedia que as meninas fossem transportadas por uma mulher (lembrando: não será um transporte escolar, desses com um monte de crianças) e os inbox que começaram a chegar comprovaram que eu tinha razão… Fiquei sabendo de relatos de motoristas abusadores, algo muito mais comum do que se pensa. Não é só mulher adulta que sofre nos táxis e ubers da vida, não!

Enquanto lia as mensagens, também lembrei de como eu mesma sofri, indo desde os 10 anos de idade para a escola de ônibus, com cantadas, passadas de mão, encoxadas e demais agressões.

Luz nas trevas

Por sorte, junto com histórias tristes que não desejamos a ninguém, começaram a pipocar muitas indicações de ladydrivers e serviços especializados, como um com a maravilhosa sigla TPM (Transporte Para Mulheres). Nessas horas, agradeço demais as redes sociais e a possibilidade de reunir, em pouco tempo, tantas sugestões. Depois disso, meu trabalho foi ver o que cabia no nosso bolso, fazer algumas ligações e marcar conversas ao vivo.

Acho bem deprê que, com os anos que separam a minha infância/adolescência da das minhas filhas, continuemos a ter esse tipo de preocupação. O que mudou é que hoje falamos mais do assunto, denunciamos, nem sempre nos calamos. E também contamos com alternativas. Nesse caso específico, mais e mais mulheres fazem o uso do carro para conseguir o ganha-pão e isso torna possível que minhas filhas sejam transportadas com mais segurança, em todos os sentidos.

Sobre a autora

A jornalista Maria Flor Calil, mãe da Teresa e da Julieta, e esperando Francisco, já trabalhou na TV Cultura, na Fundação Roberto Marinho e até foi dona de loja infantil. Depois da maternidade, foi abduzida pelo mundo da maternagem e editou o site da Pais & Filhos, a revista Claudia Filhos e lançou o livro “Quem Manda Aqui Sou Eu – Verdades Inconfessáveis Sobre a Maternidade”. Atualmente, é diretora de conteúdo do Aveq (www.averdadeeque.com.br) e editora de comunicações do Colégio Santa Cruz.

Sobre o blog

Começar de Novo, a música-tema do seriado Malu Mulher (exibido em 1979 e atualíssimo para as questões femininas), é inspiração para a jornalista grávida de um temporão. Um espaço para falar do lado B da maternidade, com uma dose de leveza e outra de profundidade.

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