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Filho, a única coisa que é pra sempre

Maria Flor Calil

02/01/2018 08h04

Último dia de 2017. Acabo o ano carregando no ventre meu terceiro filho. Ou seja, esse ano será um daqueles inesquecíveis, eternos.

Casamentos acabam. Mudamos de trabalho, de casa, de cidade. Encerramos ciclos de amizade. Ganhamos e perdemos peso. Cortamos, pintamos e até raspamos o cabelo. Viramos vegetarianos, veganos, voltamos a comer carne. Fazemos promessas e passamos um tempo sem beber, sem comprar roupas, sem comer chocolate. Tudo nessa vida é transitório, menos ter um filho.

"Quando Francisco nascer, nós vamos reformar nossa vida"

Minha filha Teresa repetiu essa frase muitas vezes desde que soube que ia ganhar um irmão. De fato, até fizemos uma reforma na casa para construir um terceiro quarto que abrigasse o bebê inesperado. Mas reformar a vida, como é isso? Do alto de seus 10 anos, Tetê enxerga longe. Nossa vida nunca mais será a mesma: a família passará a ter cinco integrantes; Julieta será a filha do meio e não mais a caçula; choro e cheiro de bebê preencherão a casa por um bom tempo; eu e Ricardo seremos pais de três. Três descendentes, três misturas totalmente diferentes de DNA, três oportunidades de vivenciarmos o amor incondicional.

Agora serei adulta?

Quando fiz 25 anos, um quarto de século, perguntei a meu pai quando é que me sentiria adulta. Eu já tinha minha casa, trabalho, carro, vida independente, mas não me sentia gente grande. Não esqueço a resposta dele: "Sabe filha, e se eu te disser que até hoje, aos 53 anos, muitas vezes não me sinto adulto? Mas se tivesse que te apontar um momento, diria que é o nascimento dos filhos."

Não lembro de ter tido a sensação de finalmente ser adulta com o nascimento da primogênita, mas sim quando estava escolhendo a primeira escolinha que ela iria frequentar, ali, na frente da diretora, querendo saber da linha pedagógica, do lanche, das atividades, de como meu bebê ia sobreviver longe de mim. Uma responsabilidade dessa, bicho, só podia ser coisa de adulto.

Presente vitalício

Quando os amigos ganham filhos eu sempre os parabenizo pelo presente vitalício. Apesar dos perrengues e das dificuldades que vêm no pacote, eu nunca experimentei outra oportunidade tão preciosa para rever valores, rotas e hábitos. Já durante a gestação fazemos um esforço para melhorar a alimentação, promovemos aquela arrumação na casa, planejamos com cuidado o futuro próximo. Se vamos conseguir colocar todas as boas intenções em prática importa menos do que fazer um balanço de como anda nossa existência.

Grávida, e no último dia do ano, fazer balanço da vida é praticamente inevitável e é com força e garra que pretendo entrar no próximo ciclo. Afinal, tenho a responsabilidade, e a alegria, de ter recebido mais um presente vitalício.

Chove lá fora e dentro do meu peito faz um sol enorme. Vem 2018.

Sobre a autora

A jornalista Maria Flor Calil, mãe da Teresa e da Julieta, e esperando Francisco, já trabalhou na TV Cultura, na Fundação Roberto Marinho e até foi dona de loja infantil. Depois da maternidade, foi abduzida pelo mundo da maternagem e editou o site da Pais & Filhos, a revista Claudia Filhos e lançou o livro “Quem Manda Aqui Sou Eu – Verdades Inconfessáveis Sobre a Maternidade”. Atualmente, é diretora de conteúdo do Aveq (www.averdadeeque.com.br) e editora de comunicações do Colégio Santa Cruz.

Sobre o blog

Começar de Novo, a música-tema do seriado Malu Mulher (exibido em 1979 e atualíssimo para as questões femininas), é inspiração para a jornalista grávida de um temporão. Um espaço para falar do lado B da maternidade, com uma dose de leveza e outra de profundidade.

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