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Grávida, CLT e com medo de perder o emprego?

Maria Flor Calil

14/11/2017 08h00

 

 

Um momento que deveria ser de alegria e tranquilidade: gerar uma vida, criar ou ampliar uma família, experimentar o maior amor do mundo. Assim deveria ser o período da gestação, à parte é claro, os enjoos, as mudanças no corpo e o cansaço, normais no período, as mulheres não deveriam ter que se preocupar com manter o emprego e com o direito à licença-maternidade.

Mas não é bem assim que a banda toca… Um estudo sobre Mulheres e Maternidade, realizado pela MindMiners, empresa especializada em pesquisa digital, apontou que 47% das mulheres entrevistadas já foram rejeitadas para uma vaga por serem mães ou por desejarem engravidar. As que estão empregadas também sofrem com a sobrecarga de trabalho (tendo que demonstrar que nada muda com a gestação ou a chegada dos filhos), o preconceito e o fantasma da demissão.

É amigas, desde que chegamos ao mercado de trabalho, e acumulamos os papéis de mãe e profissional, somos testadas, diariamente, em nossa capacidade de dar conta. A cobrança interna e externa é imensa. Quem é que nunca ficou constrangida, ou foi constrangida, por ter que sair no meio de uma reunião, que extrapolou o horário, para buscar o filho na escola ou por faltar para levar uma criança doente ao médico?

Uma profissional "menor"?

Não à toa, no Brasil, o número de mulheres que não volta da licença-maternidade está entre os maiores do mundo. Elas decidem empreender, fazer qualquer coisa, para poder ficar com os filhos e continuar tendo alguma renda e satisfação profissional.

A pergunta é: será que se mais homens assumissem igualitariamente o cuidado com os filhos, inclusive delimitando horário de trabalho e faltando para cuidar do bebê com febre, o mundo corporativo não acompanharia a mudança e deixaria de ver a mulher como uma profissional "menor"?

Começamos pela licença pós-parto. Em nosso país, pela lei, as mulheres têm quatro meses e os homens têm cinco (!) dias. Desde 2016, empresas inscritas no Programa Empresa Cidadã, dão seis meses para as mães e 20 dias para os pais. Ou seja, desde o início, está claro que quem deve cuidar do bebê, e se afastar do trabalho, é a mulher. Ok, nós amamentamos, e, mais do que isso, queremos ficar com nosso filhote o máximo de tempo possível, mas há muitas coisas para os pais fazerem com um recém-nascido, inclusive criar vínculo.

Sociedade precisa valorizar as habilidades que chegam com a maternidade

Já passei pela experiência de ter licença-maternidade, e não voltar dela, e também pela de ser dona do meu próprio negócio e voltar ao trabalho com um bebê de dois meses, mas tendo controle sobre meus horários. Agora, na terceira gestação, terei a licença tradicional de quatro meses + férias.

Mesmo sabendo que não serei demitida e tendo a gravidez super bem acolhida no meu ambiente corporativo, uma parte de mim sente-se, sim, insegura. Estou o tempo todo pensando em como não frear minha carreira, em como não deixar de ser uma profissional interessante para meus empregadores, em cursos que eu possa fazer durante a licença para adquirir novos conhecimentos.

Uma coisa é certa e comprovada: a maternidade desenvolve milhares de habilidades nas mulheres, como melhor gerenciamento do tempo, empatia e inteligência emocional. Não está na hora de elas serem valorizadas pela sociedade?

 

 

 

Sobre a autora

A jornalista Maria Flor Calil, mãe da Teresa e da Julieta, e esperando Francisco, já trabalhou na TV Cultura, na Fundação Roberto Marinho e até foi dona de loja infantil. Depois da maternidade, foi abduzida pelo mundo da maternagem e editou o site da Pais & Filhos, a revista Claudia Filhos e lançou o livro “Quem Manda Aqui Sou Eu – Verdades Inconfessáveis Sobre a Maternidade”. Atualmente, é diretora de conteúdo do Aveq (www.averdadeeque.com.br) e editora de comunicações do Colégio Santa Cruz.

Sobre o blog

Começar de Novo, a música-tema do seriado Malu Mulher (exibido em 1979 e atualíssimo para as questões femininas), é inspiração para a jornalista grávida de um temporão. Um espaço para falar do lado B da maternidade, com uma dose de leveza e outra de profundidade.

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